Pacientes com doenças e dores crônicas tendem a apresentar sintomas psicológicos, frequentemente, relacionados à ansiedade e à depressão.
Em pacientes com dores crônicas, estudos apontam que tanto o manejo da dor quanto o de sintomas depressivos não são tratados de maneira adequada, o que resulta no aumento da intensidade da dor, na incapacidade de trabalhar, na diminuição da qualidade de vida e na piora das relações interpessoais. A literatura recente indica que, muito possivelmente, a suplementação com ácidos graxos ômega-3 pode impactar positivamente na qualidade de vida desses indivíduos. Além disso, estudos apontam que, em pacientes com sintomas de depressão e ansiedade, a deficiência de ômega-3 se mostrou mais pronunciada que em pessoas somente vivendo com depressão.
Thesing et al. (2018) avaliaram a relação entre a presença de ácidos graxos poli-insaturados e a presença de características clínicas de depressão e ansiedade. A partir de dados retirados do trabalho Netherlands Study of Depression and Anxiety, os autores observaram que, quando comparados ao grupo controle, pacientes convivendo simultaneamente com depressão e ansiedade apresentaram menor concentração de ômega-3, assim como os pacientes depressivos. Não foram encontradas diferenças com relação ao nível de ômega-6 entre os grupos.
Nesse sentido, em estudo de revisão de Cortes et al. (2013), os autores avaliaram os efeitos da suplementação nutracêutica com ômega-3 no tratamento de pacientes que apresentavam dor crônica, associada à presença de distúrbios psiquiátricos. Um dos pontos que os autores levantaram é a interdependência entre a presença de dor e as desordens psicológicas, isto é: tanto a ansiedade quanto a depressão têm a capacidade de exacerbar o quadro de dor do paciente; a presença desta, por sua vez, pode atuar como um gatilho para o desenvolvimento de distúrbios psiquiátricos. Foi observado também que a ação neuroprotetora do ômega-3, bem como sua capacidade em estabilizar o humor e reduzir o estado inflamatório, atuou de maneira benéfica entre os pacientes avaliados.
Entre os mecanismos bioquímicos propostos para explicar a relação do ômega-3 com as desordens psiquiátricas, cita-se o potencial anti-inflamatório do óleo de peixe em mitigar a hiper-reatividade do sistema imune associado à depressão. Além disso, é importante citar que a insuficiência do DHA na dieta implica na redução indireta dos neurotransmissores corticais serotonina e dopamina, associados à via mecanística da depressão. Dessa forma, o papel do DHA na saúde cerebral está associado à modulação da neurotransmissão, na formação de novos neurônios e na comunicação entre as células, entre outras funções.
Portanto, tendo em vista o papel modulador do óleo de peixe na manutenção da saúde cerebral, a suplementação com ômega-3 pode contribuir para a melhora de quadros depressivos concomitantes a ansiedade, beneficiando, inclusive, paciente com dores crônicas associadas.
Referências
CORTES, M.L. et al. Uso de terapêutica com ácidos graxos ômega-3 em pacientes com dor crônica e sintomas ansiosos e depressivos. Revista Dor, v. 14, n.1, p. 48-51, 2013.
THESING, C.S. et al. Omega-3 and omega-6 fatty acid levels in depressive and anxiety disorders. Psychoneuroendocrinology, v. 87, p. 53-62, 2018.
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